Aproveitando
a onda o Outubro Rosa, mês que todos falam de como detectar e
prevenir o câncer de mama, venho contar minha história que não é
de mama. Meu câncer foi de colo de útero. Tudo começou quando meu
marido percebeu como se fosse um caroço no colo do meu útero, fui
ao ginecologista e de imediato ele achou que pudesse ser alguma ferida por conta da curetagem que fiz, quando perdi meu bebê, pois é
ainda teve essa.
Como
já estava de mudança para o interior, resolvi deixar para fazer os
exames em minha nova morada, para não ter que ficar voltando a São
Paulo. Assim que mudamos corri atrás de agendar ginecologista para
fazer papa nicolau e outros exames necessários.
Assim
que voltou o resultado do papa, o posto de saúde me ligou pedindo
pra retornar com o médico, pois ele precisava falar comigo. Achei
estranho pois ainda não tinha feito os outros exames ainda, mas
retornei. Não consigo descrever a sensação de ouvir: “ Bom vou
direto ao ponto, saiu no seu papa que vocês está com com câncer,
vou te encaminhar para a universidade para o oncologista analisar a
melhor linha de abordagem.”
Meu
chão ruiu, de um jeito, que eu não conseguia fazer outra coisa a
não ser chorar, chorar muito. Não conseguia contar nem para meu
marido, o que o médico falou. Depois de algum tempo, fui parando de
chorar e expliquei ao coitado o que tinha acontecido. Eu estava
prestes a fazer um ensaio sensual, para divulgação da loja de
lingerie Plus Size que estávamos montando, sim porque naquele
momento o mais importante era cuidar da minha saúde, em paralelo a
isso, estava estudando e fazendo treinos físicos pois queria prestar
concurso da polícia Federal. Imagine seus objetivos e metas sendo
atingidos por um cometa: O Câncer, é mais ou menos isso que
acontece.
A
família, e agora? Como contar? Qual a reação deles? Foi difícil
para mim contar aos familiares, todos achavam que eu estava fazendo
uma brincadeira (quem me dera). Só de fato acreditaram quando
mostrei o resultado do exame, e o mais difícil de tudo isso, foi na
verdade, encarar os olhares, choros, que para mim dizia: Coitada,
está com o pé na cova. Tive que buscar dentro de mim, forças que
jamais imaginava que tivesse, para ser forte por mim e por eles.
Graças a Deus, apesar disso, sempre tive o apoio incondicional deles
todos, principalmente de meu marido, Rodrigo Cortijo, que apesar do
desespero que sentia, se mantinha calmo, pesquisando como doido sobre
o assunto, tratamentos, procedimentos.
Pois
bem, meu ginecologista, Carlos Majolini, apesar de ter me dado de
longe a pior notícia da minha vida, foi um anjo, tentou me acalmar,
e no mesmo momento pegou o celular e entrou em contato com o
oncologista que era seu amigo e especialista em câncer ginecológico,
pediu se ele poderia me atender antes de todo os trâmites internos
do hospital, e de imediato ele aceitou (muito obrigada Carlos e
Juliano) e assim foi na sexta-feira de Páscoa de 2014. Olhou os
exames que tinha feito, perguntou se poderia me examinar, e colher
biopsia. E assim foi feito. Ali mesmo ele me explicou que poderíamos
fazer quimioterapia e depois somente retirar o tumor ou a cirurgia
radical, tirando colo, útero, ovários e trompas. Como eu não
queria mais ter filhos, decidimos na hora pela cirurgia e me fizeram
os pedidos de exames pré-operatórios.
Os
exames foram feitos e em junho do ano passado, operei. Foi super
demorado o procedimento, foram retirados vários linfo-nódulos. Com
um corte do baixo ventre a dois dedos acima do umbigo (inclusive este
foi afetado), tive que fazer repouso, levantando da cama apenas para
ir ao banheiro e comer. De tanto ficar deitada de repouso, a parte de
trás do meu cabelo caiu, e ali estava eu calva. Não curti a ideia e
pedi para meu marido passar maquina zero, e assim fiquei carequinha.
No começo me incomodava com as pessoas me olhando e colocava, lenço,
boina, mas depois percebi que era só cabelo, e perto do que estava
passando não significava nada pra mim. E saía de casa com a careca
exposta, com um belo batom, e brincos. E por algum tempo adotei esse
visual, até que voltasse a nascer cabelo na falha. Meu médico ainda
brincou comigo, porque não precisei fazer quimioterapia, nem
radioterapia, e antecipei as coisas e fiquei careca. Aos poucos você
vai se reerguendo e começa a fazer caminhadas leves, que ajudam na
recuperação. Como antes da cirurgia estava com um bom
condicionamento físico, Graças a Deus, foi tudo mais rápido, meu
corpo reagiu de maneira inesperada.
Prestes
a começar a reposição hormonal, e ansiosa por ela, já que meu
organismo, por falta dos ovários entrou em menopausa, senti um
incômodo e um sangramento estranho pós sexo. Fui ao médico, claro,
gato escaldado tem medo de água fria, o Dr Juliano fez exame de
toque e saiu uma espécie de coágulo na mão dele. Poderiam ser
várias coisas, inclusive a volta do câncer, mas não queria
desanimar, me mantive firme até o dia do retorno da biópsia: era
ele de novo, quando achei que não conseguiria mais ser forte, tive
que ser. Era final de ano, que tinha sido tumultuado, não queria
despejar essa notícia sobre meus familiares de novo, e acabar com a
feste de Natal, Ano Novo e mantive em segredo até uns dias depois da
virada para 2015.
Cirurgia
marcada, já sabia quais eram os preparatórios e procedimentos, me
internei para cirurgia. No dia seguinte cedo, iríamos tirar o
restante. Já no centro cirúrgico, as médicas vendo os resultados
dos pré operatórios, ouvi: “ Nossa será que ele vai querer
operar? Eu disse pra marcar consulta antes da cirurgia...” Me
assustei e pensei, pronto tô morta. Perguntei o que era, e me
disseram que minha glicemia estava 300 mas que deveria estar errado.
Mediram na hora, e de fato estava 302. Percebi que essa atitude de
ter segurado a notícia do retorno do câncer não fez bem pra mim.
Logo o Dr Juliano chegou e resolveu operar mesmo assim.
Depois
de horas no centro cirúrgico, lembro de falar com o Dr Juliano, ele
disse que minha bexiga tinha encostado no tumor e que teria que tirar
o pedaço que estava comprometido, eu disse que tudo bem e me
apagaram de novo. Bem, nessa fiquei com a bexiga um terço menos do
que de um adulto. E precisava ficar com sondas, isso mesmo sondas, no
plural, foram duas, uma pela uretra e outra diretamente da bexiga, já
que ela não poderia inflar. Onde foi feita a incisão não foi
possível sutura, pois era na parte posterior, eles tiraram uma placa
de gordura da minha barriga para selar o corte (cá entre nós,
poderiam ter tirado um pouco a mais rsrs). Foram quatro longos meses,
com sondas, dependendo do Ro para tudo, até tomar banho, me vestir,
enfim tudo. Quando resolveram tirar uma das sondas, a da uretra, mas
a outra ainda precisaria ficar por um tempo, para ter certeza que
fechou e cicatrizou como deveria a bexiga.
Preciso
confessar aqui, que era muito cômodo, rs, tinha que beber cravado
pelo menos 3 litros de água por dia, para estimular a bexiga, com a
sonda fica fácil, eu dormia a noite inteira como um bebê. Assim que
tirou a sonda, eu parecia a mãe de recém-nascido, acordava de hora
em hora para ir ao banheiro, pois a quantidade de água tinha que ser
mantida.
No
corpo humano temos um conjunto de músculos que chama-se assoalho
pélvico, ele sustenta a bexiga, o reto, e no caso das mulheres,
útero. Pois bem como fiquei muito tempo com sondas, o músculo
acostumou a ficar relaxado. Resultado disso: Incontinência urinária.
Descobri depois de muito tempo que existem muitas pessoas que sofrem
disso, mas tem vergonha de assumir e procurar ajuda. Imagina, eu uma
jovem senhora, rs, de 35 anos tendo que usar absorvente geriátrico,
pois o absorvente normal não dava conta. Fui procurar ajuda, pois
não aceitava isso.
Descobri
que podia fazer exercícios de Protocolo Kegel (similares ao
pompoarismo) que fazer o músculo retornar a si. Mas não recomendo
fazer sozinhos, pois nem sempre entendemos de maneira correta, é
extremamente necessária a orientação de um fisioterapeuta. A
fisioterapia é um processo que é demorado, muito demorado, para o
paciente, que quer ver o resultado pra já. Essa é uma das grandes
batalhas do paciente, o imediatismo. Faço sesões toda sexta-feira
com a fisioterapeuta e em casa todos os dias, mesmo antes de começar
a radioterapia, que dessa vez não escapei.
Foram
31 sessões de teleterapia (radiação externa na região afetada) e
4 braquioterapia (radiação interna). Sempre me falaram que
radioterapia não fava reação alguma, quem disse isso era o maior
mentiroso do mundo, claro que não chega aos pés da quimioterapia,
mas no meu caso, afetou intestino, bexiga. Gente nunca tive tanta diarreia na minha vida, e a ardência para urinar, que ainda sinto,
pois fazem somente duas semanas que acabei o tratamento. A radiação
leva em média 3 meses para sair do corpo e abandonar os sintomas.
Mas perto do que passei, isso não é nada, incomoda, claro que sim,
mas o melhor do tratamento é manter a fé de que estará curada.
Bom
acho que é isso, queria agradecer pela oportunidade de contar minha
história (resumida) e deixar uma dica, façam sempre seus
periódicos, que eu deixei por um ano e olha o que me aconteceu. Foi
um aprendizado, sempre fui imediatista demais, e isso serviu para
acalmar meu coração, me transformar em uma pessoa melhor, que
apesar de enérgica, um pouco mais calma, a ver a vida com outros
olhos. Cabelos crescem, cortes cicatrizam, e suas cicatrizes viram
marcas de guerra. Lute sempre, não desista nunca.